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Professora da UFRPE/UAST vence concurso com pesquisa sobre mulheres rurais e acesso ao auxílio emergencial

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profa lorenaA professora da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE) Lorena Lima de Moraes foi premiada em primeiro lugar, na categoria Ensaio, do IX Concurso Anual Sudamericano para Jóvenes: Derechos campesinos y dinámicas territoriales em tiempos del COVID-19. O concurso é organizado pelo Instituto para el Desarrollo Rural de Sudamérica (IPDRS - Bolívia).

O texto premiado tem como título “Mobilidade urbano-rural como entrave no acesso às políticas públicas em tempos pandêmicos: o drama das mulheres rurais do Nordeste brasileiro” e foi escrito em parceria com a antropóloga e professora do IFCE (Itapipoca) Tatiane Barros e com a bióloga Bárbara Silva (UNIVASF).

A pesquisa teve a coordenação Lorena Moraes e contou ainda com outras pesquisadoras que integram a Rede Interdisciplinar de Mulheres Acadêmicas do Semiárido (RIMAS):  Rebeca Barreto (UNIVASF) e Nicole Pontes (UFRPE/UAST) e Shana Sieber (UFRPE/UAST/DADÁ).

A pesquisa

O ensaio premiado versa sobre as dificuldades que as mulheres rurais enfrentaram para acessar o auxílio emergencial. A principal delas foi o deslocamento entre as comunidades rurais e as sedes dos municípios onde estão localizadas as lotéricas e agências da Caixa Econômica Federal. As distâncias percorridas pelas mulheres entrevistadas variam de 4 km a 180 km, fazendo com que as mulheres das comunidades mais distantes cheguem a gastar em torno de 5 horas apenas no deslocamento.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de junho e agosto e contou com a participação de 74 mulheres de 23 comunidades rurais e tradicionais (quilombolas, agricultura familiar e comunidades de fundo de pasto) do Nordeste brasileiro (PE, BA e CE). Todas as entrevistas foram realizadas por telefone ou por aplicativos de chamada de voz, garantindo o distanciamento social entre pesquisadoras e entrevistadas.

“Esta forma de coleta de dados foi um grande desafio para todas nós, pois dependíamos que o sinal de telefonia e internet funcionasse e, nem as pesquisadoras, tampouco as mulheres poderiam contar com serviços de alta qualidade. Eu, por exemplo, também moro na zona rural e a minha internet é muito instável”, ressaltou Lorena Lima de Moraes.

Além da questão da mobilidade rural-urbana, que é um tema ainda pouco investigado nas Ciências Sociais, as mulheres destacaram dificuldades quanto ao acesso à internet, evidenciando a desigualdade digital e submissão aos serviços custosos de lan house; ao desconforto nas longas filas na espera para receber o auxílio, estando submetidas à exposição ao sol, chuva, fome, sede, cansaço, estresse, ao risco de serem contaminadas pelo coronavírus, uma vez que a concentração dos pagamentos apenas pela Caixa Econômica provocou aglomerações, como vistas nos noticiários.

“Além de tudo, faltava dinheiro nas lotéricas fazendo com que as pessoas ficassem por mais tempo nas filas. Uma completa falta de planejamento!”, enfatiza a pesquisadora da UFRPE. E para falar novamente sobre a mobilidade, a ausência de transporte regular que faça o trajeto comunidade rural-sede do município era um fator que provocava muita angústia nas mulheres, pois, muitas delas iam para a área urbana sem a certeza de como iriam retornar para casa.

“Ou seja, se elas não conseguissem receber o dinheiro até o horário combinado com o motorista, elas teriam que retornar a pé, ou tentar conseguir uma carona. Algumas delas, se organizaram e alugaram motocicleta ou carro particular e dividiram os custos com outras mulheres da comunidade. Mas, esta auto-organização não foi possível para a maioria das mulheres entrevistadas”, destaca a pesquisadora.

Importância do prêmio

O Instituto para el Desarrollo Rural de Sudamérica (IPDRS) é uma organização boliviana da sociedade civil que executa projetos, realiza consultorias, avaliações, serviços de fortalecimento de capacidades de desenvolvimento rural na América do Sul, através das diretrizes: pesquisa-ação; comunicação e interaprendizagem. É uma organização comprometida com a produção teórica, política e técnica em prol dos povos campesinos e indígenas da América do Sul.

“Esta é a 9ª edição do Premio CONCURSO ANUAL PARA JOVENES e foi a segunda vez que participo. Na 8ª edição ficamos em terceiro lugar”, afirma Lorena Lima de Moraes.

O concurso anual para jovens tem o objetivo de estimular a produção de conhecimento, reflexão, debates e propostas sobre diversos temas do desenvolvimento rural de base camponesa e indígena na América do Sul. Por um lado, o concurso estimula a produção de conhecimento protagonizada pela juventude e, por outro, divulga a diversidade das realidades camponesas da América do Sul.

“Nesta última edição, que tinha como tema: ‘Derechos campesinos y dinámicas territoriales en tiempos del COVID-19’, pudemos apresentar a realidade das populações rurais do Nordeste brasileiros, destacando mulheres de distintos grupos sociais (quilombolas, agricultoras familiares e mulheres de comunidades de fundo de pasto), refletindo assim, a diversidade existente em nosso país”, aponta Lorena.

“Receber este prêmio em tempos de ataque à ciência, sobretudo, às Ciências Humanas, para nós é de extrema importância uma vez que incentiva a produção de conhecimento crítico, além de termos a oportunidade de denunciar as violências sofridas pelas populações rurais e o descaso dos poderes públicos, que reforçam a segregação socioespacial e o isolamento geográfico da população rural, quando não se pensa estratégias para possibilitar o acesso aos serviços básicos que proporcionam a qualidade de vida para estes grupos”, enfatiza a pesquisadora da UFRPE/UAST.

Na edição de 2019, Lorena Lima de Moraes conquistou o terceiro lugar com o tema “Mulheres Rurais e Uso do tempo”, pesquisa que está sendo desenvolvida no Sertão do Pajéu - PE. “Devido à idade, a edição de 2020 foi a minha última participação e a partir de agora continuarei incentivando as minhas alunas a participarem e a divulgarem as pesquisas que realizamos na Unidade Acadêmica de Serra Talhada”, finaliza Lorena de Moraes.

 

cartaz evento